sexta-feira, abril 28

Para atravessar contigo o deserto do mundo...


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.


Sophia de Mello Breyner Andersen, in LIVRO SEXTO, 1962

terça-feira, abril 25

País de Abril, há 32 anos

25 de ABRIL

Explicação do País de Abril

País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.


Manuel Alegre, in PRAÇA DA CANÇÃO

segunda-feira, abril 24

Fado do Encontro

Tim: Andando, cantando
Tenho o sol à minha frente
Tão quente, brilhante
Sinto fogo à flor-da-pele
Tão quente
Beijando como se fosses tu

Mariza: Ao longe, distante
Fica o mar no horizonte
Ele por certo
Onde a tua alma se esconde
Tão quente, esperando
Esse mar es tu

Tim: Pode a noite ter outra cor
Pode o vento ser mais frio

Os Dois: Pode a lua subir no céu
Eu já vou descendo o rio

Mariza: Na voz, revolta

Os Dois: Fecho os olhos, penso em ti

Mariza:
Tão perto, que desperto

Os Dois: Há uma alma à minha frente
Tão quente
Beijando, por certo que és tu

[Instrumental]

Os Dois: Pode a lua subir no céu
E as nuvens a noite toldar
Pode o escuro ser como breu
Acabei por te encontrar

Mariza: Vou andando, cantando

Os Dois:
Tive o sol à minha frente

Tim:
Tão quente

Mariza:
Brilhando

Os Dois: E a saudade me deixou
Para sempre
Por certo

Mariza:
Meu amor és tu

Letra: Tim

domingo, abril 23

Dia Mundial do Livro


O "Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor" é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril, dia de São Jorge.

Esta data foi escolhida para honrar a velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas UMA ROSA VERMELHA DE SÃO JORGE (Saint Jordi) e recebem em troca, UM LIVRO.
Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de grandes escritores, como Shakespeare e Cervantes, falecidos em 1616, exactamente a 23 de Abril.

Partilhar livros e flores, nesta primavera, é prolongar uma longa cadeia de alegria e cultura, de saber e paixão.

sexta-feira, abril 21

Mais um desafio Caixante!

RECEITA PARA UM POEMA

Ingredientes:

jornal
tesoura
Saco
Papel
caneta


Para fazer um poema dadá
Pega num jornal.
Pega numa tesoura.
Escolhe um artigo do tamanho pretendido para o poema.
Recorta o artigo.
Recorta depois cada uma das palavras do artigo e coloca-as num saco.
Sacode suavemente.
Retira então os recortes um atrás do outro.
Copia escrupulosamente na ordem em que saíram do saco.
O poema será como tu.

Tristan Tzara, pseudónimo de Samuel Rosenstock (1896-1963), judeu francês de origem romena, fundador do Dadaísmo.

Sugerimos aos nossos leitores que façam esta receita e nos enviem o resultado de tão saboroso pitéu!

Não se esqueçam de o servir numa bela travessa!

segunda-feira, abril 17

Para o Mário

“Palavras não existem
Fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós”
Gastão Cruz

Para o Mário Viegas, por ser tão grande, pelo dom da palavra, pelo dom da expressão, da representação, pelo dom de Ser.

Parabéns ao PÚBLICO pela colecção que se propôs a fazer, com a discografia completa do Mário Viegas, acompanhada por uns livrinhos que são um autêntico delírio, uma viagem fascinante.

domingo, abril 16

Charlie Chaplin

Há pessoas que deveriam ser relembradas todos os dias.
Na minha opinião, Charlie Chaplin é uma dessas pessoas.

Um poeta,um músico, um pensador, um homem de mil e uma facetas,
um homem de muitos sucessos, um homem triste e melancólico,um palhaço,
um homem tão delicado como as cordas de um violino... um génio...

Porque hoje se fosse vivo faria 117 anos, e embora sejam muitos os anos que nos separam,continua tão actual como na sua época. Fica aqui uma pequena homenagem a esse Monstro do Cinema, hoje, porque faria anos, mas todos os dias lhe faço a minha devida homenagem,
pensando, rindo e sonhando com ele porque todos os dias são dias de Chaplin!

Texto e Montagem: Catarina Poderoso

sexta-feira, abril 14

Saudade


"Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.


Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam- se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.


Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;s
e ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.


Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler..."

Miguel Falabella

quinta-feira, abril 13

Teatro Bocage

Depois de o Teatro Maria Matos re-abrir as suas portas, chegou agora a vez de um novo espaço cultural nascer em Lisboa, o Teatro Bocage.
O Teatro, que se inaugura no próximo dia 5 de Maio, visa ser uma oportunidade para os mais jovens actores, ou para os não tão jovens, e conta já com alguma programação para os próximos meses. Para além disso situar-se-á também aí a Academia de Artes Actor Studio, com uma Escola de Actores bem como Workshops regulares nas mais diversas áreas artísticas.

TEATRO BOCAGE
Rua Manuel Soares Guedes, 13 A
Lisboa (Anjos/Graça)

segunda-feira, abril 10

Santo e Senha


SANTO E SENHA
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.
Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.

Coimbra, 3 de Janeiro de 1932
Miguel Torga, Antologia Poética, Pub. D. Quixote, pág 245

sexta-feira, abril 7

...


Raramente me recordo dos sonhos.
Mas parece-me que algumas canções são como sonhos na medida em que adormecemos quando elas principiam e acordamos quando terminam.
Conduzem-te a qualquer lado.
São uma forma de hipnotismo, as melhores.
Tom Waits

quinta-feira, abril 6

Galeria de Cores

Unos Quantos Piquetitos!
FRIDA KAHLO
1935

Depois de ter passado por vários países do Mundo, a mais completa exposição da artista mexicana chegou finalmente a Portugal. Está no Grande Hall do Centro de Exposições do CCB até dia 21 de Maio. As Caixantes aproveitam esta Galeria de Cores para deixar a sugestão.

terça-feira, abril 4

O Principezinho faz anos!

A edição francesa de O Principezinho, a obra de Antoine de Saint-Exupéry que continua a encantar miúdos e graúdos, cumpre 60 anos como o livro francês mais traduzido, já que está publicado em 160 línguas diferentes, tendo já vendido cerca de 80 milhões de exemplares.
Parabéns!

Para os curiosos, aqui se lê toda a notícia

segunda-feira, abril 3

Desafio Literário Caixante

Nos blogs vizinhos encontram-se uns desafios bastante interessantes e hoje também vos lançamos um, que descobrimos aqui.

Ora bem:
1º Pegue no livro mais próximo de si
2º Abra o livro na página 23
3º Procure a 5ª frase
4º Escreva o texto no seu blog com estas instruções – Ou partilhem connosco aqui n’A Caixa!

Caixante Catarina: “A anestesia poupo-o ao supremo sacrilégio de querer transferir os poderes da morte para um deus mais geralmente conhecido como dador da vida.
As Intermitências da Morte, José Saramago

Caixante Daniela: “Reparo melhor na vila… Alvenaria e castanho, construções para séculos. Ruas lajeadas, recantos onde nunca entrou o sol. Paredes-mestras. Silêncio e humidade até à medula, gestos lentos, hábitos regrados.”
Húmus, Raul Brandão

domingo, abril 2

Fotografia com Poesia...


Fragilidade

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera
Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve
Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar
É tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve.


Poema e Música: Mafalda Veiga
Interpretada por: Mafalda Veiga e Luís Represas
Foto: Fernando Barros

sábado, abril 1

O Pano Sobe...

PARABÉNS CAIXA!!


Pode parecer estranho, que o primeiro artigo escrito nesta nova casa seja de Parabéns, mas A Caixa já ouve as pancadinhas de Moliére há um ano e este é um novo ciclo que se abre para A Caixa!! Bem-vindos a quem chega de novo e juntam-se à festa e a quem nos acompanhou este ano que passou!!

Eis a nossa nova casa, ou melhor, Caixa!

Porque a vida é feita de ciclos, A Caixa abre-se dando lugar a um novo palco. Numa casinha mais arrumadinha, mais moderna e mais convidativa (pelo menos, assim o esperamos), convidamo-vos, tal como há um ano atrás, a entrar pela nossa porta d'A Caixa.

Relembramos ainda o nosso primeiro artigo de há um ano atrás, quando A Caixa abriu pela primeira vez, as suas portas.

abril 01, 2005

Entrada...
Porquê a Caixa? A Caixa é a porta dos artistas, a porta por onde entram e saem aqueles que "pedem passagem no palco, que querem participar na festa do Teatro".
Nesta nossa porta para os bastidores queremos que as pessoas entrem, vejam, sonhem e partilhem um Mundo de Artes que há por descobrir...